janeiro 19, 2009

O desabamento da Renascer e a justiça de Deus

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“E, naquele mesmo tempo, estavam presentes ali alguns que lhe falavam dos galileus cujo sangue Pilatos misturara com os seus sacrifícios. E, respondendo Jesus, disse-lhes: Cuidais vós que esses galileus foram mais pecadores do que todos os galileus, por terem padecido tais coisas? Não, vos digo; antes, se vos não arrependerdes, todos de igual modo perecereis. E aqueles dezoito sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, cuidais que foram mais culpados do que todos quantos homens habitam em Jerusalém? Não, vos digo; antes, se vos não arrependerdes, todos de igual modo perecereis” - Lucas 13.1-5

A irresponsável teologia da prosperidade assevera que não há maldição sem causa, e não apenas isso, senão que também usa vários versículos bíblicos para respaldar a sua insensível afirmação. Porém, apesar de todos os esforços neopentecostais de associar as tragédias humanas com alguma atitude negativa de parte do crente, eles jamais conseguiram apresentar um argumento convincente: sofrem igualmente o justo e o ímpio, e perecem igualmente o bom e o mau.

Esse pensamento discriminatório que inventa causas para as tragédias humanas também estava presente no pensamento dos judeus do primeiro século depois de Cristo. Em Lucas no capítulo 13, vemos que alguns homens – possivelmente seguidores de um varão chamado Judas, o galileu – haviam sido cruelmente assassinados pelos romanos. Comentaristas afirmam que eles foram mortos enquanto ofereciam sacrifícios a Deus, o que explicaria a alusão ao sangue deles associado com os sacrifícios. Eles estavam cultuando a Deus quando de repente foram dizimados por ordem de Pilatos. A sabedoria popular, tal como nos dias de hoje, associou o evento a algum tipo de pecado que aqueles homens supostamente haviam cometido, mas Jesus foi enfático ao afirmar que não foi por castigo que aqueles homens haviam perecido: aquilo fora uma fatalidade, e apenas isso. Jesus também recordou um fato ocorrido com dezoito homens sob os quais caira uma torre, matando-os indiscriminadamente. Para muitos religiosos aquilo era um castigo divino: Jesus, porém, considerou o episódio como fatalidade e enfatizou que aqueles homens eram tão pecadores quanto todos os homens de Jerusalém.

Recentemente se notíciou pela TV, rádio e internet um episódio ocorrido dentro de um templo da Igreja Renascer:

“O teto da Igreja Renascer da Avenida Lins de Vasconcelos, 1.120, no bairro do Cambuci, cedeu durante intervalo entre cultos, às 18h56m deste domingo, cinco minutos após a fala transmitida por satélite da bispa Sonia Hernandes, fundadora do templo. Segundo o Corpo de Bombeiros, foram confirmados até agora 7 mortos - todos são de mulheres e foram achados nos escombros da igreja” [Fonte: Notícias Cristãs]

Igual que nos dias de Jesus, não faltam pessoas para associar o evento aos escândalos ocorridos com o casal Estevam e Sônia. Como os homens podem ser tão mesquinhos? Em face da tragédia ocorrida, ao invés de lamentarem o que aconteceu e orar por aqueles que perderam parentes e amigos no desabamento, pedindo a Deus que conforte seus corações; ao invés de apresentarem amor, empatia e solidariedade àqueles que estão gravemente feridos em hospitais, esses homens aproveitam-se do ocorrido para promover seus blogs e sites, vociferando contra a Renascer e dizendo que esse desabamento é um castigo divino.

Jamais justifiquei o Estevam e a Sônia, e creio que Jesus deixou exemplo de que devemos pagar impostos, mas não posso admitir que associem a desgraça dessas pessoas à má conduta do casal. Isso não é bíblico e nem teológico! As sentenças grupais ficaram restritas à dispensação da lei; agora estamos na era da graça. Vislumbrando a presente era o profeta Ezequiel disse: “a alma que pecar, essa morrerá”. Já não há maldições transferidas e já não existe embasamento para punições grupais; isso simplesmente caducou, ficou no passado profético da nação de Israel. Com respeito aos nossos dias, Jesus bem se expressou àqueles portadores das más-novas: “isso não é um castigo divino contra a impiedade humana, é um evento fortuito, nada mais” (Paráfrase própria).

Acaso pensas tu, amigo leitor, que estás em melhor condição que aquelas pessoas que foram soterradas quando desabou o teto da igreja Renascer? “Não, vos digo; antes, se vos não arrependerdes, todos de igual modo perecereis”. Arrependamo-nos então, da nossa falta de amor ao próximo, da nossa insensibilidade e dessa nossa teologia podre e imprecatória, que nada mais é que a própria impiedade disfarçada de religião.
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2 comentários:

Anônimo disse...

Oi Linda, a paz!
Nossa fico satisfeita com sua tamanha ousadia de ter postado isso. Mas isso tudo é verdade, tudo o que fazemos um dia de errado, iremos prestar as contas com Deus. Saiba que algum louco, cego pode te escrever dizendo que isso que você escreveu é pura lorota, não é.
Uma coisa é que nos entristece que alguns, querendo ou não, pagam o preço por outras pessoas,

Um grande bjo.

Jonara disse...

Obrigada Ju,por mais uma vez sua participação e por estar de acordo com meu pensamento. Oremos por aqueles que perderam seus parentes e por aqueles que ainda estão feridos.
Paz...