setembro 28, 2011

Desordem e regresso

Por Humberto Martins

Sábado, andando de metrô assisti alguém jogando uma garrafa pet
de refrigerante pela janela trem. Isso é comum, acontece sempre. Basta sair às ruas para assistirmos cenas como estas, ou mesmo piores, ocorrendo o dia todo. É cultural, somos assim. Pobres e desmazelados.

O pior de tudo é que, as mesmas pessoas que agem assim, são as que mais tarde sofrerão com as enxurradas e enchentes resultantes do entupimento de bueiros e redes de esgoto. Nossa população ainda vive instintivamente. Come, bebe, e joga fora, não importa onde. Não consegue abstrair, conceituar, refletir sobre suas ações.

Essa sujeira também se mostra em outros âmbitos. Aliás, toda a vida social se mostra comprometida pelas sujeiras que tomam conta desse país. Ao passo que pouco ou nenhum estranhamento há com algumas situações de imundície. Exemplo disso, alguém comentava comigo que iria fazer aulas de direção para tirar a CNH, mas que iria desde já garantir sua aprovação cedendo ao assédio das autoescolas, que instituíram um tal de “quebra” – uma “propininha inofensiva” que você dá para não ser reprovado no dia do exame de rua.

Por aí vai. Reclamamos de políticos cujo comportamento não é outro senão o nosso próprio, apenas atuamos em outras esferas. Pior de tudo não é pecar, é não se assumir pecador. Enquanto pecamos e assumimos, ainda apontamos para um padrão ideal. Contudo, quando fundamentamos nossos pecados, descaracterizando-os como tais, instituímos o erro e propagamos sua prática.

“Mas todo mundo faz”, eis aí a origem de nossas mazelas sociais. Do lixo à propina, das propinas para ser aprovado no exame de direção aos mensalões, dos mensalões aos desvios de verbas públicas para o benefício próprio, dos desvios de verbas às vergonhosas concessões ao desmatamento de nossas florestas.

Enfim, vivemos primitivamente, satisfazendo nossos apetites imediatos, satisfazendo nossos instintos, protegendo nossos interesses particulares em detrimento das necessidades comunitárias. Não interessa se a pequena corrupção resultará em terríveis consequências amanhã, não importa se o desmatamento de agora negará às outras gerações recursos naturais, saúde e qualidade de vida, nem tampouco adianta lembrar que o lixo jogado na minha rua adentrará pelas portas da minha própria casa quando as chuvas chegarem. Nada importa que não seja imediato e não me dê prazer ou alívio.

Sem estranhamento, sem pensar e repensar nossas práticas, vamos decaindo, “involuindo”, regredindo. Ordem e progresso, só mesmo na Bandeira Nacional. O que assistimos no dia a dia é o contrário: desordem e regresso!

Mas como diria um camarada que eu conheço: há esperança! Não sei bem dizer de onde ela vem, mas enquanto houver vida, certamente deverá haver esperança.

Fonte: Visao Integral

Nenhum comentário: