fevereiro 09, 2010

Parto normal ou cesariana? (parte I)


A Organização Mundial de Saúde (OMS) adverte: a cesariana pode fazer mal à saúde. Um aviso como esse, inexistente é claro, bem poderia ser afixado nos consultórios médicos e maternidades.

A operação cirúrgica que deve seu nome, segundo a lenda, ao nascimento de um dos imperadores romanos Júlio César, vem dominando o mundo, exatamente como costumavam fazer esses antigos e poderosos senhores. O aumento do número de cesarianas é um fato mundial e se deve sobretudo ao avanço tecnológico, facilitador de um diagnóstico tão acurado das condições da criança no útero que, em alguns casos (em centros mais avançados), é possível até mesmo curar certas doenças fetais.

Se antes o feto já se sentia protegido e à vontade em seu elemento, o ventre materno, hoje ele está ainda mais cercado de cuidados, e quase se pode dizer que sua saúde estará garantida ao nascer. Mas essas técnicas inovadoras não justificam, por elas mesmas, o excessivo número de cesarianas no Brasil.

A afirmação é do médico especialista em ginecologia e obstetrícia Dr. Pedro Paulo R. Monteleone, presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CRM): "As novas técnicas levam a um aumento das cesarianas de 10 a 20 por cento, em geral, mas há regiões no Brasil em que esse índice atinge 80 por cento dos partos, um absurdo", reprova o professor aposentado da Escola Paulista de Medicina. A análise dos dados revela: em média, realizam-se 558 mil cirurgias desnecessárias por ano, que acarretam um desperdício de 84,3 milhões para o SUS (Sistema Único de Saúde) e a ocupação de mais de 1.600 leitos hospitalares por dia.

O "trauma" do parto normal

As razões para esse aumento desproporcional no número de partos cirúrgicos são históricas, e a imprensa teve seu papel nisso. A partir do final da década de 60, a introdução da ultra-sonografia tornou a cesariana mais segura para a mãe e a criança. Além disso, as mudanças de comportamento incentivadas pela Revolução Sexual e o Movimento Feminista geraram mulheres mais ativas e exigentes.

Era comum lermos, em grandes reportagens de jornais e revistas, declarações em que as mães testemunhavam a favor da cesariana, dizendo que seu filho nasceria numa data que lhe seria conveniente, não haveria correrias, a criança nasceria sem o "trauma" do parto normal, etc. A essa visão algo distorcida dos fatos veio aliar-se a conveniência dos médicos: um trabalho de parto normal pode tomar de 4 a 8 horas (e às vezes mais) do tempo deles, enquanto numa cesariana, em condições normais, tudo se resolve em pouco mais de uma hora.

Assim, como diz a expressão popular, uniu-se o útil ao agradável, e foram criadas as condições para que a cesariana sem indicação precisa, predominasse.

Insegurança desgaste

Todos sabemos das más condições da saúde no Brasil. Volta e meia assistimos nos telejornais a reportagens que mostram o péssimo atendimento dispensado à população. No que se refere à assistência obstétrica, essa situação reflete principalmente duas coisas: as deficiências na formação dos médicos (por sua vez, conseqüência direta do descaso votado há décadas à educação) e a má remuneração desses profissionais. Isto resultou, por um lado, em médicos inseguros quanto aos procedimentos mais simples do parto normal e, por outro, desgastados por serem forçados a ter diversas atividades, alguns trabalham em três ou mais locais, a fim de garantirem sua subsistência.

Em resumo, mais lenha para a fogueira da opção pela cesariana: mais rápida, e em termos, mais segura. "Quando as coisas não vão bem num parto normal, a família chega e diz: "Se tivesse sido feita cesariana...", explica Monteleone. "Agora, se acontece alguma coisa com a criança nascida de cesariana, a família já não culpa tanto o médico, e diz: "O médico fez de tudo, até cesárea...", completa, revelando que mais esse elemento de pressão sobre o médico tende apenas a tornar o parto cirúrgico ainda mais comum do que já é.

Fonte: Alô Bebe

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